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A Reconstrução Diária de Nosso Corpo

Elisabeth C. Wajnryt Compulsão Alimentar

Há alguns anos atrás participei de um workshop do Women´s Therapy Center Institute de Nova York, conduzido por duas das minhas amigas e mentoras, Jane Hirschmann e Carol Munter. Elas são as autoras de “Adeus às Dietas”, publicado pela Saraiva, para o qual eu tive a honra de escrever o prefácio da edição brasileira.

Estávamos discutindo o mal estar de nossos corpos na cultura em que vivemos e como a cada manhã, nos sentimos obrigadas a reconstruir nosso corpo,parte por parte. Os exemplos foram rolando:

Acordamos e já colocamos a mão na barriga, para medir o seu tamanho. Engordamos? “Ai meu Deus”. Emagrecemos? “Uau!” Nem um nem outro? “Ufa!”

E depois vamos para o espelho, a primeira olhada do dia, aquela expressão de “Eca!” e as primeiras ações para a reconstrução. Cabelos, olhos, boca, dentes, cremes, cores, tintas.

Um dos sites de mais sucesso é o de uma moça que ensina como fazer o efeito de uma “cirurgia plástica” através da maquiagem. Imaginem isso, todos os dias, milhões de mulheres seguindo passo a passo suas indicações.

Por último, a escolha cuidadosa da roupa, que disfarce, que modifique, que aperte, que alongue…

Bom, naquele workshop de mulheres mais “informadas”, combinamos experimentar que no dia seguinte, viríamos todas como somos, do jeito que acordamos, valendo só escovar os dentes. Queríamos experimentar nesse ambiente mais protegido, a sensação de “poder ser”, do jeito que somos.

Vocês não imaginam o frisson naquela sala, muitas falando que não conseguiriam.

“Não pode nem um batonzinho?” Não.

“Nem um hidratante?” Não.

No dia seguinte, Jane e Carol estavam lá, de cara lavada, algumas outras pessoas do grupo também. Mas a maioria não conseguiu.

Nem eu. Meu diálogo naquela manhã na frente do espelho foi de racionalizar e encontrar todos os motivos porque o hidratante e o batonzinho, naquele frio, eram uma questão de “saúde” e não de estética. E lá fui eu, meio “derrotada”, disfarçando ao máximo, me agrupar de novo com estas pessoas mais corajosas, mais à frente do nosso tempo.

Amedeo Modigliani. Jovem mulher de olhos azuis. 1917.